Capão Bonito incentivará expansão da “Cultura Maker” nas escolas

INOVANDO NA EDUCAÇÃO – FabLab (laboratórios de fábrica ou de fabricação), do-it-yourself (DIY, ou faça você mesmo), hands on (no popular, mão na massa), maker movement (movimento maker).

Termos como esses começaram a se tornar familiares no ambiente de uma boa quantidade de escolas privadas e públicas brasileiras, nos últimos anos, com a introdução da Cultura Maker no ambiente dos ensinos infantil, fundamental e médio.

A Secretaria Municipal de Educação de Capão Bonito anunciou nesta semana que incentivará a expansão da Cultura Maker na Rede Municipal a partir de 2020.

“O principal pilar dessa cultura é a ideia de que eu, você, alunos e qualquer outro ser humano podemos fabricar, construir, reparar e alterar objetos dos mais variados tipos e funções com as próprias mãos e uma boa dose de colaboração e transmissão de informações. Precisamos aprimorar várias questões no relacionamento da Cultura Maker com a rotina escolar e nosso objetivo é buscar cada vez mais uma pedagogia da criação com liberdade individual”, destaca o secretário de Educação – Wagner Santos.

Segundo a arquiteta Heloísa Domingues Neves, uma das mais respeitadas consultoras sobre o tema do país, criadora do We Fab (wefab.cc), ponto de encontro entre makers, empresários e empresas, os ganhos são claros porque os jovens se sentem muito bem nesses ambientes. “Por isso todo mundo está buscando essas estruturas”, destaca Neves.

A mais respeitada autoridade acadêmica do mundo na atualidade em assuntos ligados à Cultura Maker nas escolas, para aprimorar o aprendizado e preparar jovens diante dos desafios do futuro, é um brasileiro.

Engenheiro formado na Universidade de São Paulo, Paulo Blikstein é professor-doutor das escolas de Educação e de Engenharia da universidade americana de Stanford, com mestrado pelo Massachusetts Institute of Technology, o MIT, e doutorado pela Northwestern University, de Chicago.

Dirige o Transformative Learning Technologies Lab e presta consultoria em projetos educacionais nos Estados Unidos e em outros países, incluindo o Brasil.

Blikstein criou em 2009 o FabLab@school, primeiro programa mundial para levar laboratórios-fábrica e espaços de produção maker a escolas públicas e privadas dos ensinos fundamental e médio.

Oficinas – Nos últimos anos, instituições de ensino importantes começaram a apostar nas ideias de Blikstein no Brasil.

O pesquisador inspirou o centenário Colégio Dante Alighieri a inaugurar, no início do ano passado, o FabDante, um laboratório de criatividade, inovação e fabricação digital e artesanal com tecnologia de ponta para criação de protótipos, realidade aumentada, produção digital, softwares e hardwares para alunos do ensino médio.

O projeto reúne conceitos desenvolvidos pela equipe do brasileiro em Stanford e também propostas do MIT baseadas nas ideias da Cultura Maker de aprendizagem criativa, colaboração, comunicação e, sobretudo, posicionamento do aluno no centro do processo de aprendizagem.

O FabDante abriga ações como equipamentos de costura, bordado, máquina de costura, bordado, chromakey para gravação de vídeos, lousa digital, equipamentos e kits para prototipação eletrônica, automação e robótica.

Em Santana de Parnaíba, na região metropolitana de São Paulo, a Cultura Maker é um dos pilares do processo educacional da Escola Castanheiras desde a fundação, há 14 anos.

Eles criaram a Oficina de Invenções, resultado do trabalho de um de seus professores, Tomás Vega, doutor pela Unicamp em Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte. As pesquisas de Vega foram inspiradas nos conceitos do filósofo tcheco naturalizado brasileiro Vilém Flusser sobre uso de arte, design e tecnologia no processo educacional.

Players – No Colégio Guilherme Dumont Villares, também em São Paulo, os espaços e o movimento surgiram do desdobramento de uma prática antiga: o uso da sucata como material de criação e produção. A escola adota há muitos anos a cultura do faça-você-mesmo como forma de integrar as matérias em atividades para a construção de um conhecimento mais abrangente. “Não desenvolvemos a cultura maker em um único espaço, mas em todo o colégio. Escolhemos o melhor cenário de acordo com cada projeto”, explica a responsável pela tecnologia educacional, Jucilene Marsura.

Exemplos recentes dessa produção são o robô feito por crianças de quatro anos com caixas de papelão, com QR codes que remetem a filmes em que os próprios alunos fazem comentários sobre partes do corpo humano, e uma exposição sobre doenças tecnológicas feita com tablets acomodados em caixas de papelão e instalados nos corredores da escola. “Nossa metodologia é ativa nesses casos. Fazemos o aluno chegar ao conhecimento com situações práticas mediadas pelos professores com a apresentação dos conteúdos formais”, afirma Jucilene.

A chegada da Cultura Maker ao ambiente da educação abriu um caminho de mercado também para empresas voltadas para cursos, mobiliário inteligente e parceiros de escolas privadas em projetos educacionais.

A Zoom Education oferece projetos com conteúdo maker a seus parceiros de acordo com o modelo STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na sigla em inglês.

A Positivo Tecnologia Educacional, braço do Grupo Positivo, outro player importante do setor, é uma empresa B2B que oferece soluções em aprendizagem com alta tecnologia para escolas privadas e gestores públicos de educação. Segundo o CEO Álvaro Cruz, “o objetivo é transformar a sala de aula em um ambiente estimulante e desafiador para os alunos”.

Entre seus principais produtos estão o Pense Matemática, as Mesas Educacionais, o Laboratório Móvel Positivo, os Ecossistemas Adaptativos Aprimora, os Aplicativos Educacionais, a Central de Projetos, os gerenciadores de sala de aula, além de dispositivos e equipamentos para escolas, alunos e professores.

A empresa é, também, distribuidora oficial dos materiais da Lego Education no país. Atualmente, o grupo atende mais de duas mil escolas, que reúnem cerca de 450 mil alunos.

O arquiteto e designer Álvaro Luis Cruz, vice-presidente de Inovação Educacional da empresa, destaca a importância da Cultura Maker para a formação do profissional do futuro.

“Nossos produtos e pacotes de parceria são elaborados para a busca de criatividade, empreendedorismo e letramento digital. Os alunos precisam construir algo que dê significado ao aprendizado desenvolvido. Para nós, Cultura Maker é um capítulo dentro da Educação 4.0, o processo de busca de soluções educacionais para o futuro diante do movimento internacional das rápidas mudanças nos empregos e funções” detalha.

De acordo com o diretor de Divisão de Ensino Fundamental – prof. Santino Oliveira, um estudo recente, apresentado no Fórum Mundial, atesta que existe a chance, nas sociedades modernas, de até 65% das funções e profissões atuais desaparecerem ou serem trocadas por outras no período de formação dos alunos que ingressam hoje no ensino infantil.

“Se não houvesse outra motivação, apenas esse dado seria suficiente para levar educadores a buscar métodos mais abrangentes para formar os cidadãos diante de mudanças em velocidades cada vez mais avassaladoras”, alega o diretor.

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