TELEMEDICINA | Cidades do interior paulista têm fortalecido a atenção em saúde mental por meio de atendimentos psicológicos remotos oferecidos diretamente pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). A iniciativa, estruturada com o apoio da L2D Saúde Digital, referência nacional em telessaúde voltada ao setor público, já demonstra resultados expressivos em municípios como Capão Bonito e São Roque, onde as consultas online têm reduzido filas, ampliado o alcance do cuidado e atraído públicos que historicamente buscavam menos atendimento psicológico.
A implementação da telepsicologia ocorre em um momento de demanda crescente: o Brasil ocupa o 1º lugar no mundo em prevalência de ansiedade e o 2º em casos de depressão, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo com a necessidade crescente, o acesso permanece limitado por estigma, sobrecarga dos serviços e distâncias territoriais. O modelo digital surge como alternativa para democratizar o cuidado, garantindo acolhimento, sigilo e eficiência dentro do SUS.
Para Tatiane Barbosa, psicóloga responsável pela operação da L2D, a teleconsulta representa “uma verdadeira virada de chave” para a rede pública. Segundo ela, o formato remoto permite ampliar a cobertura, reduzir filas e garantir atendimento no momento certo, sem perder o vínculo humano essencial ao cuidado psicológico.
Modelos adaptados à realidade de cada município – Em Capão Bonito, as consultas são realizadas por aplicativo, com agendamento direto do celular após cadastro na UBS Central. A equipe de psicólogas atende de segunda a sexta-feira, das 9h às 22h, com média mensal entre 90 e 130 agendamentos. Os atendimentos abrangem ansiedade, depressão, luto, sobrecarga emocional e conflitos familiares, com classificação de gravidade que orienta encaminhamentos ao CAPS quando necessário.
O impacto já é evidente: desde o início do projeto, 758 sessões foram realizadas, reduzindo significativamente a fila de espera e ampliando o acesso à saúde mental em toda a rede municipal.
Em São Roque, o serviço funciona em regime de plantão remoto dentro da própria UBS. As consultas, realizadas entre 7h e 16h, absorvem demandas espontâneas e permitem encaminhamentos imediatos a outros profissionais, integrando o cuidado ao cotidiano da atenção primária. O município registra uma taxa de realização de 73,7%, indicador que revela a alta demanda reprimida por atendimento psicológico na região.
Novos públicos, maior adesão e histórias de transformação – O modelo remoto também tem alcançado perfis pouco habituados a buscar atendimento. Em Capão Bonito, o número de homens atendidos cresceu 95% em um ano, impulsionado pelo sigilo e pela praticidade da teleconsulta. Casos de violência doméstica e conflitos familiares passaram a ser acolhidos com mais segurança, garantindo continuidade e proteção às vítimas.
Os relatos de transformação se multiplicam: pacientes em sofrimento grave encontraram na escuta remota um espaço de reorganização emocional, superando processos de luto, resgatando vínculos familiares e enfrentando quadros de ansiedade com mais autonomia.
Cuidado estruturado com base científica – Os atendimentos seguem protocolos clínicos que integram diversas abordagens, como Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Psicologia Analítica Junguiana, ACT, Terapia do Esquema (TE) e Mindfulness. Essa combinação permite personalizar o cuidado, reduzir o uso precoce de medicamentos e priorizar estratégias práticas, psicoeducativas e orientadas ao contexto de vida de cada paciente.
Segundo Tatiane Barbosa, o diferencial está em uma anamnese criteriosa e em um acompanhamento contínuo. “Buscamos promover autonomia, evitar dependência farmacológica e fortalecer o protagonismo do paciente na própria trajetória de cuidado”, afirma.
Resultados que apontam para o futuro
Para Luiz Fernando Donke, CEO da L2D Saúde Digital, a experiência demonstra que a telessaúde pode fortalecer o SUS de maneira sustentável: “O trabalho em Capão Bonito e São Roque comprova que é possível oferecer saúde mental de qualidade usando tecnologia. Nosso objetivo é expandir esse modelo e integrá-lo às políticas públicas de forma permanente.”
O avanço da telepsicologia no interior paulista representa um marco na democratização do cuidado em saúde mental — um serviço mais acessível, acolhedor e alinhado às necessidades reais da população.








